terça-feira, 28 de abril de 2009

    Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos campos dia 26 de julho de 1895 e morreu no Rio de janeiro no dia 14 de janeiro de 1974 foi um jornalista, editor, historiador,poeta ensaísta brasileiro e estudioso de temas sociológicos.
    Atraído desde cedo pelas letras, aos 12 anos, fundou, em sua cidade natal, a revista "Íris", e quando estudante em São Paulo, "Panóplia".
    Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo, Anta juntamente a Plínio Salgado e Menotti dvidael Picchia e foi o fundador do grupo da Bandeira juntamente a Menotti del Picchia em 1937. No mesmo ano foi eleito para a cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, sendo o segundo modernista aceito na instituição (o primeiro havia sido Guilherme de Almeida) fazendo premiar o volume de Cecília Meireles, “Viagem”, o primeiro livro de versos modernos que a Academia distinguiu. Pertenceu à Academia Paulista de Letras.
    Formou-se em direito no Rio de Janeiro, em 1917. Rumando para São Paulo, trabalhou como jornalista, iniciando como profissional no "Correio Paulistano", vindo a fundar ou dirigir vários jornais no futuro, entre eles "Anhanguera" e "A Manhã". Aproximou-se de Menotti Del Picchia e Plínio Salgado, à época da Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1924 fundou a revista modernista A Novíssima.
    Cassiano Ricardo estreou com "Dentro da Noite", aos vinte anos, e nessa obra já se utiliza de versos heterométricos, chega quase ao verso livre, e o seu clima poético é penumbrento, sombrio até, estando assim divorciado da norma parnasiana, ainda imperante.
Escreve então "Borrões de Verde e Amarelo" e "Vamos Caçar Papagaios", que são esboços, rascunhos, de "Martim Cerêrê" - uma peça clássica da poesia moderna brasileira, como disse Carlos Drummond de Andrade. Esse poema propunha uma visão épica da história pátria, exaltava o bandeirismo, buscava a mitologia nacional, vinculava-se à civilização cafeeira e à civilização industrial, se fundamenta no mito tupi do Saci-Pererê, manifestando uma conciliação das três raças formadoras da cultura nacional, a indígena, a africana e a portuguesa. Mesclando essas três fontes lingüísticas, ele elabora o que foi chamado de "mito do Brasil-menino".Modernista e primitiva a um só tempo, brasileira sem ser nacionalista, sua estrutura lembra alguns elementos da história em quadrinho e dos filmes de animação.
    É poema da terra e das grandes cidades, produto eufórico de um momento eufórico, de um instante de crescimento, de formação de uma consciência de grandeza. Cantava uma raça nova, produto da miscigenação, raça que fora anunciada pelos modernistas desde as primeiras horas do movimento e que deveria produzir um tipo especial de brasileiro - esse filho de todos os povos, que era feito de percentagem de todos os sangues - do branco, do preto, do índio e de todos os imigrantes.
    É canto nascido da crença na "democracia biológica", inventada, aliás, pelo próprio Cassiano Ricardo, ou seja, a democracia fundada na ausência de preconceitos de sangue. O poema poema Martim Cererê foi publicado em 1928, experiência modernista onde soube aproveitar como poucos o Indianismo, uma das influências do momento, que coloca lado a lado com Macunaíma (de Mário de Andrade) e Cobra Norato (de Raul Bopp).
    Em 1932 foi secretario do governador paulista Pedro de Toledo, sendo preso durante a revolução constitucionalista. Em 1939, tornou-se diretor da revista Brasil Novo, do departamento nacional da propaganda (DIP). Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo. Em 1951 dirigiu a editora A Noite. Entre 1953 e 1954 foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris. Em 1960 recebeu o prêmio Jabuti, pelo livro a A Difícil Manhã (1960) e, em 1965, ganhou o prêmio Juca Pato (intelectual do ano), concedido pela União Brasileira de Escritores. No período de 1967 a 1974 foi membro do Conselho Federal de Cultura, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes.
    Cassiano Ricardo manteve, até o fim de sua vida, uma pesquisa poética experimental e independente, acompanhando de perto os novos movimentos de vanguarda, sobre os quais escreveu. Seu último livro, 50 anos após o de estréia, exemplifica essa constante inquietação.
Sua obra passa por diversos momentos; inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a epopéia bandeirante. Por fim detém-se em temas mais intimistas, cotidianos.

OBRAS

 POESIA
   §  Dentro da noite (1915)

§  A flauta de Pã (1917)

§  Jardim das Hespérides (1920)

§  A mentirosa de olhos verdes (1924)

§  Vamos caçar papagaios (1926)

§  Borrões de verde e amarelo (1927)

§ Martin Cererê(1928)

§  Deixa estar, jacaré (1931)

§  Canções da minha ternura (1930)

§  Marcha para Oeste (1940)

§  O sangue das horas (1943)

§  Um dia depois do outro (1947)

§  Poemas murais (1950)

§  A face perdida (1950)

§  O arranha-céu de vidro (1956)

§  João Torto e a fábula (1956)

§  Poesias completas (1957)

§  Montanha russa (1960)


ENSAIO

§  O Brasil no original (1936);

§  O negro da bandeira (1938);

§  A Academia e a poesia moderna (1939);

§  Marcha para Oeste (1940);

§  A poesia na técnica do romance (1953);

§  O tratado de Petrópolis (1954);

§  Pequeno ensaio de bandeirologia (1959);

§  22 e a poesia de hoje (1962);

§  Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964)

§  A difícil manhã (1960)

§  Jeremias Sem-chorar(1964)

§  Os sobreviventes (1971)



Algumas poesias do livro "Jeremias Sem-Chorar"

ROTAÇÃO

a esfera 
em torno de si mesma 
me ensina a espera 
a espera me ensina 
            a esperança 
a esperança me ensina 
uma nova espera a nova 
espera me ensina 
de novo a esperança 
            na esfera 

a esfera 
em torno de si mesma 
me ensina a espera 
a espera me ensina 
            a esperança 
a esperança me ensina 
uma nova espera a nova 
espera me ensina 
uma nova esperança 
           na esfera 

a esfera 
em torno de si mesma 
me ensina a espera 
a espera me ensina 
           a esperança 
a esperança me ensina 
uma nova espera a nova 
espera me ensina 
uma nova esperança 
          na esfera


VIAGEM EM CÍRCULO
               (REPETIÇÃO)

a esperança me o-
briga a caminhar
em círculo em tor-
no do globo em tor-
no de mim mesmo em
torno de uma mesa
de jogo

até que o zodíaco
pára e a noite cos-
tura-me a boca a
retrós preto/ mas
eu fico impresso
no olho do dia o-
bsoleto

viagem em círculo
sem ida nem venida
sem nenhuma aveni-
da/ adeus com a mão 
esquerda/ amanhã
recomeço

entre e um e outro
julho entre um e 
outro crepúsculo a
cidade que busco
como hei de encon-
trá-la/ ouço-lhe a
fala mas estou na
outra sala/ amanhã
recomeço

a esperança é um 
círculo no zodía-
co na ciranda na
roleta na rosa do
circo na roda do
moinho 
amanhã recomeço

em que lado do glo-
bo terá cessado o
diálogo da ovelha
e do lobo?
      

LADAINHA

Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-
                        corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.

 

SERENATA SINTÉTICA 


Lua
morta

 Rua

torta

Tua
porta